María Ulecia
PORTO – PORTUGAL / ESPANHA
VIVER
Vivo e trabalho no Porto onde tenho o meu ateliê desde 2019. O meu trabalho mais pessoal está inspirado pela natureza, a botânica principalmente mas também o mar, as pedras (que coleciono), a terra, o passo do tempo, e a ação natural e humana sobre elas, são o eixo dos meus projetos.
OBSERVAR
Gosto, sobre tudo, de desenhar. Sou feliz com uma folha de papel e um lápis ou uma caneta.
O desenho para mim é um 90% de observação. Creio que lá está a chave de tudo.
A observação consciente do que me rodeia é uma das atividades fundamentais da minha vida. Desenho o que observo cada dia desde que tenho lembrança, pequenos papéis, cadernos, livros… adoro desenhar coisas fora de escala.
EXPERIMENTAR
Fiz as minhas primeiras peças cerâmicas, poucas, ainda nos tempos das Belas Artes em Madrid, nos 80’s do século passado, mas sem muito interesse. De 2000 à 2005 morei numa pequena aldeia da minha Extremadura natalícia ao lado de Salvatierra de los Barros, vila cheia de oficinas de olaria familiares. Lá recuperei o gosto pelo barro, mas duma forma muito amateur, aprendi dos processos tradicionais e das formas de decoração antigas. Criar uma peça da terra que nos próprios apanhamos do chão continua a parecer-me um milagre.
E continuo a experimentar técnicas que eu própria imagino podem dar algum resultado. Mesmo quando o normal seja que não resultem em nada aproveitável. O processo é o que gosto.
APRENDER
Desde Janeiro de 2006 vivo em Portugal. Em Lisboa até março de 2019. Durante aqueles anos frequentei oficinas de cerâmica e fiz cursos de distintas técnicas que hoje me permitem desenvolver o meu trabalho. Até 2000 trabalhei como designer gráfica, até 2022 desenvolvi alguns projetos de hotelaria muito especiais, mas desde 2019 o foco da minha actividade é a cerâmica, que já praticava há anos em Lisboa como puro divertimento.
Sou muito curiosa. A aprendizagem do (e dos) que me rodeiam é fundamental para mim.
Me lembro com carinho especial de algumas pessoas importantes nos meus processos de aprendizagem: Júlia Hidalgo, Manolo Molezum, Manolo Holgado, Ed Benguiat, Richard Wilde, José María Guisado, Milton Glaser, … as minhas irmás, a minha avó é sobre tudo dos meus pais.
INUTILIDADE
Gosto muito de trabalhar para (e com) a arquitetura. Mais do que fazer peças utilitárias creio que o meu são as peças “inutilitárias” das que disfruto tanto enquanto as estou a pensar e executar, como nos períodos de secagem nas que apenas as observo, ou ao abrir a Mufla após terem sido vidradas. Gosto da ideia de produzir peças cuya maior utilidade seja a companhia que nos fazem, e o disfrute da sua contemplação.
ESPERAR
É o melhor da cerâmica e dos projetos nos que me envolvo. Ter de aguardar o tempo certo para avanzar em cada parte de cada processo. A espera permite observar as pequenas ou grandes alterações que acontecem nas peças. É sempre dá para aprender algo do que se passa enquanto uma peça está em período de espera. E não falo só da cerâmica: no desenho, no bordado, ou na cozinha disfruto mais do tempo de observação e de espera ou do processo mental entre sessão e sessão.
ACUMULAÇÃO
Pois é. Tenho sido acumuladora desde sempre. É parte da minha herança paterna e não vou desistir dela, mas estou a começar a controlar-me na acumulação material, e numa proporção inversa, a descontrolar-me na acumulação humana. Assim, aos bocados, há unos anos comecei desprender-me de objetos que me tem acompanhado há muito tempo. Agora estarão no ateliê enquanto me separo deles e passam a ter nova vida.
TRABALHO
Gosto de trabalhar por encomenda. Assim não acumulo peças no ateliê a ganhar pó… mas entre uma e outra encomenda avanço em peças de todo tipo que vou juntando e que as vezes mostro em alguma exposição. Agora a partir de setembro de 2024 vou ter uma parte do ateliê aberta às tarde alguns dias da semana e lá se podem ver estas peças e as de outros amigos aos que vou convidar trazer algumas coisas das que gosto especialmente.